terça-feira, 26 de março de 2013

Minha Casa Minha Vida gera impacto de 0,8% no PIB

Leonardo Corrêa: "O financiamento imobiliário e o Minha Casa Minha Vida trouxeram um grande impulso ao mercado"


O sonho da casa própria está se tornando realidade para milhões de brasileiros. Até dia 4 de fevereiro, foram entregues pouco mais de um milhão de unidades habitacionais no programa Minha Casa, Minha Vida. O crescimento não deve parar por aí. Ano passado, foram contratadas mais de 817 mil unidades habitacionais, número que engloba todas as modalidades do programa. A meta é contratar ainda 700 mil unidades em 2013, segundo a assessoria de imprensa do Ministério das Cidades. A iniciativa tem estimulado uma longa cadeia, de construtoras a fabricantes de materiais de construção. Segundo o governo, mais de 2.000 construtoras já contrataram pelo programa. Em 2012, de acordo com dados do Ministério das Cidades, a iniciativa gerou um impacto estimado em cerca de 0,8% do PIB e garantiu a geração de aproximadamente 1,4 milhão de postos de trabalhos formais. O programa do governo federal representou um impulso para o negócio das construtoras que atuam na área. Na MRV, mais de 80% do Valor Geral de Vendas (VGV) está ligado à iniciativa. No início da década passada, a média anual de apartamentos que a empresa trabalhava girava em cerca de duas mil unidades. Nos últimos dois anos, com o programa, esse número saltou 20 vezes e chegou a 40 mil unidades por ano. "O financiamento imobiliário se tornou mais acessível e o Minha Casa Minha Vida trouxe um grande impulso ao mercado", diz o diretor de relações de investidores e finanças da MRV, Leonardo Côrrea. O número de colaboradores da empresa também cresceu: passou de 12 mil nos canteiros de obras em 2010 para 36 mil em 2012. São Paulo e Minas Gerais são os dois maiores mercados em volume de lançamentos da MRV. "O interior de São Paulo tem uma penetração muito grande de volume de lançamentos", diz Corrêa. Atuar no programa envolve uma cuidadosa gestão diária de custos para que o orçamento não tenha estouros. "O processo se tornou mais industrial nos canteiros e também reforçamos a preocupação com a execução, para que os prazos sejam cumpridos, porque atrasos são muito ruins para nossos clientes", destaca. Na prática isso significa que, enquanto a construtora espera o financiamento com os bancos públicos, ela já começa a preparar o terreno em que será erguido o conjunto habitacional. Assim, quando o contrato é assinado, a obra pode sair mais rápida. "Isso significa que precisamos ter um caixa mais alto para esse início de obra para preparar o terreno e adiantar as coisas, para que a obra saia no tempo previsto", frisa Corrêa. O público que adquire a moradia popular é exigente. Há um cuidado especial nas construtoras. "Esse público não pode errar e quer concretizar o sonho de vida. Por exemplo, aqui damos atenção especial às áreas externas dos conjuntos, valorizando jardins", diz o executivo da MRV. A internet é uma ferramenta importante para atingir o público. A MRV criou um canal de chat com atendentes disponíveis todos os dias em qualquer horário. Assim o cliente pode sanar dúvidas e os interessados ainda têm à disposição uma calculadora para saber se podem financiar seu imóvel pelo programa. O programa Minha Casa Minha Vida e a ascensão social têm feito crescer os negócios da UBV, que fabrica vidros planos para o setor de habitação popular. Dois segmentos têm sido impulsionados: o de box para banheiros e o de móveis com vidro. "Como se trabalha com cômodos menores, o vidro dá sensação de maior espaço e leveza", diz o presidente da empresa, Sergio Minerbo, que frisa que o box de vidro é um objeto de desejo nas classes mais populares, por representar uma evolução. Antes os clientes usavam uma cortina de plástico ou um box de plástico. "O setor de construção popular está muito ativo", afirma. A UBV produz cerca de 250 toneladas por dia de vidro plano e importa cerca de 5% da China para atender aos pedidos. Está em estudo a ligação de um segundo forno. Minerbo diz que a empresa tem notado um aumento das vendas de esquadrias já montadas para distribuidoras que as revendem diretamente para as construtoras e uma queda da parcela comercializada com as vidraçarias. "Isso indica a industrialização dos canteiros de obras das construtoras que atuam na área, como são moradias de custo mais baixo, ter o orçamento na mão é essencial e ter um canteiro industrializado facilita", afirma. O superintendente da Associação Brasileira da Indústria do Vidro (Abividro), Lucien Belmonte, diz que é difícil mensurar os impactos do programa sobre a atividade da indústria. "Tem havido um aumento do consumo por parte da construção civil e uma mudança no perfil do uso, com as classes mais baixas usando mais vidro, mas não dá para saber quanto disso é do programa Minha Casa Minha Vida no fornecimento de vidro plano para a indústria de construção", diz Belmonte. Um desafio do programa é avançar nas maiores regiões metropolitanas, onde a valorização imobiliária tem dificultado que projetos sejam enquadrados dentro do Minha Casa Minha Vida. A cidade de São Paulo - que detém o maior déficit habitacional do país com estimativas de falta de cerca de um milhão de moradias e um crescimento vegetativo que impõe a necessidade de construção de 30 mil moradias por ano - é um exemplo. "O projeto Minha Casa Minha Vida tem muitas dificuldades aqui. Talvez, para acelerá-lo, fosse preciso a discussão de mais subsídios, seja do governo do Estado, seja da prefeitura, porque não se consegue acesso a terrenos nas áreas metropolitanas mais centrais", diz o presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), Sergio Watanabe. O maior problema está nos imóveis da faixa 1, voltados aos que ganham até R$ 1600 por mês. Segundo a assessoria de imprensa do Ministério das Cidades, o ritmo de contratação da faixa 1 é satisfatório no Brasil. "As contratações para famílias com renda mensal de até R$ 1.600,00, nas modalidades onde o governo subsidia em pelo menos 90% do valor da unidade habitacional, correspondem a aproximadamente a 45% do total contratado. No geral, não há atrasos de projetos", informa.

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