segunda-feira, 29 de julho de 2013

65% das famílias admitem ter dívidas

As famílias brasileiras não se percebem como muito endividadas. Tampouco os estudos do Banco Central apontam para o descontrole dos orçamentos familiares. Nos dados de julho da Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), feita pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 65,2% das famílias brasileiras declararam-se endividadas. Desse total, apenas 14,1% se dizem muito endividadas e 7,4% afirmam que não terão condições de honrar os compromissos financeiros assumidos.

Na medição do Banco Central para o acumulado de 12 meses em abril de 2013, o comprometimento da renda familiar com o Sistema Financeiro Nacional (SFN) chegou a 44,2%. Quando expurgadas as dívidas com crédito imobiliário, o percentual cai para 30,5%, faixa que vem se mantendo com pequenas oscilações desde outubro de 2012.



"Apesar do patamar alto, não há risco de explosão da inadimplência", diz Bruno Fernandes, economista da CNC. Segundo ele, os brasileiros estão aprendendo a lidar com as dívidas. Uma lição muito proveitosa dos últimos anos veio com a abundância do crédito para veículos, a partir de 2009. Depois de deflagrada a crise financeira nos Estados Unidos, foram abertas as torneiras de dinheiro para compra de carros no Brasil, com prazos longos para pagamento. Houve uma alta da inadimplência, com consequente crescimento da devolução de veículos pelos devedores. "Tanto as instituições financeiras quanto os consumidores aprenderam com a experiência", acredita.

Para Fernandes, a análise da Peic já mostra a mudança de perfil do endividamento: os créditos mais baratos, como o consignado e o habitacional, estão substituindo o cheque especial e o crédito pessoal, o que significa uma melhoria na qualidade da dívida.


Segundo Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, a disponibilidade de crédito ao consumidor é relativamente recente na economia brasileira. Até por volta de 2004, só havia crédito de curto prazo, sem regulamentação adequada para financiamentos. Para ele, houve um certo descompasso entre o preparo da população para lidar com crédito e o desenvolvimento do mercado. "Hoje existe um mercado de crédito aquecido para uma população em processo de aprendizado", diz.


O indicador brasileiro de educação financeira, lançado pela Serasa Experian em maio passado, dá pistas sobre esse despreparo. Dividido em três categorias - atitude, conhecimento e comportamento -, o indicador atribuiu nota 6 em educação financeira ao brasileiro em uma escala de zero a 10. "A pesquisa registrou um bom nível de informação, o que significa que as pessoas têm informação sobre dívidas, taxas de juros e inflação", explica Rabi. O que puxou para baixo o indicador foi o comportamento, que teve 5,2 de nota média. "Esse item mostrou que as ações das pessoas não convergem para o equilíbrio do orçamento e tampouco para a poupança", diz.


Paulo Roberto Silva Santos, consultor de finanças pessoais, diz que o grande aprendizado a ser adquirido é o planejamento do orçamento familiar. "O planejamento é o segredo do orçamento equilibrado e a porta de entrada para o mundo da poupança", ensina Santos. Mas avisa que não é tarefa fácil, uma vez que exige mudança de hábitos, controle de impulsos de compra e, ainda, questionamento até mesmo de gastos simples, como os cafezinhos na rua ou as esmolas dadas de bom coração no farol. "Os pequenos gastos são invisíveis na percepção de grande parte das pessoas, mas têm impacto na contabilidade pessoal", diz.

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